Manhã vazia de intenções

Ele se levanta pela manhã, mal abre os olhos e já começa a doer; o dia seria longo. Não haveria chocolate quente ou chá que o fizesse se imaginar em um filme, ou uma canção de qualquer banda gaúcha.
Foram palavras secas, não tão duras para quem proferiu, mas pra quem é abandonado, tudo é crueldade.O dia nublado lá fora, a chuva fina, tudo conspirava para uma tristeza, um vazio, o dia sabia o que aconteceria, o tempo se tornou o retrato fiel do que se passava por dentro de seu peito. Claro, ninguém quer acreditar nisso, nessas besteiras, de ter sido deixado de lado, pra homem é pouco, ele pensou.
Deveria bater o pé, gritar um "foda-se", mas não, ele é sensível demais,e ia doer.
Como pode á gente brigar tanto, bater o pé, querer o desejo, correr atrás e quando consegue o mínimo que se espera,vem um babaca sei lá de onde e estraga tudo.
Lógico, perder um amor é sempre triste, mas não deveria ser para ele: homem feito, barba na cara, isso seria só mais um fim; mas  lhe é impossível...seus dramas são imensos, e as dores de cotovelo eternas.


Foram poucos momentos juntos, mas ele já sabia, como sempre criou uma expectativa enorme baseado em um beijo gostoso, abraços, e risada. Só ele sempre se sentiu, mas em certas manhãs era diferente, o início do dia  lhe trazia aquela sensação gostosa de que a vida podia ser imensa, mas a solidão lhe tomava de uma angústia com relação ao dia por vir, não se pode ser asim, a vida sempre continua mas a mágoa o estagnava e o latejar no coração era crônico.

Naquela manhã a conclusão: não se muda tão rápido.A dor nunca o ensinou, era dotado de extrema incompetência para esquecer rancores, incapacidade total para resistir as paixões e todos diziam que teria que maneirar para ser feliz-Como pode?!- pensou- A gente tem que ser menos a gente, disfarçar sentimentos, gestos e palavras, para ter quem a gente quer..isso nem faz sentido-Não faz mesmo.
Ela provavelmente estava totalmente imersa em algum outro assunto mais importante com outra pessoa, outros objetos e não há o que se pode fazer pra diminuir a frieza das pessoas, a vida é assim, também fomos muito frios as vezes embora ele com mais raridade.


"A gente pode até perder o amor ,mas nunca se deve perder o humor"; uma frase que era seu lema desde mais novo,quando surgiram as primeiras paixões. Mas com o tempo, o humor vai ficando ironico, sacarstico, até amargo, não há piada que resista a um coração machucado...a manhã continua, totalmente isenta de possibilidades, um nó na garganta, um telefonema e tudo estaria bem, mas o telefone não toca, e a porta continua ali sem emitir ruídos.
Sonhos demais, tanta coisa pra fazer e o rapaz ali esperando o amor, a cura do causador do mal, ele não cresce,e no espelho só reconhece o rosto de menino que não dorme por medo do escuro, e ama sem medo, mas guarda segredo das coisas que o desmontam, ninguém mais entenderia, nem ela se importa,agora ele sabe que a gratidão é uma ilusão,que a gente dá e sempre espera de volta e dói ser assim, exatamente quem é, dói seguir sendo aquilo que gostamos ser....o telefone não toca, a indiferença é a mãe das mágoas.]
Pra que tantos versos, por que ser exatamente o que uma mulher gostaria de ter se ,se é tudo que elas escolhem não ter? De que adianta tanto elogio, tanto paparico pra ficar ali, feito uma criança querendo espernear, pedir de volta o doce? O orgulho não existe, ele ora, a dor o faz ter fé nesse Deus que ele ignora quase sempre, se sentir importante nunca fez ninguém mais importante pra ninguém , se amar sem ter ninguém nunca lhe fez sentido, ele volta e deita de novo, o telefone ali, a porta , uma brecha de esperança e ilusão tola,do lado da cama, versos toscos, cafonices de quem já não sabe mais expressar o nó do peito, e lá fora só o vento soprava.