sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Onde está Wally? ou (Décimo quinto andar)


  Eu prefiro a solidão daqui, olhando do décimo quinto andar de um prédio as pessoas lá embaixo
no caos das grandes capitais.
  Prefiro olhar daqui as prostitutas, os viciados em crack, a menor de idade correndo atrás de sua paixão (bêbado e velhaco).
  Eu vi dois "negrinhos" encostando a arma na cintura do senhor de idade e levando tudo embora silenciosamente entre transeuntes indiferentes e apressados na cidade dura e feia. Imagino que eu lá embaixo também não notaria o olhar de terror por trás dos óculos já inúteis.
  Daqui de cima eu posso ver uma garota bonita brincando de "onde está o Wally" e  que quase dou risada , mas aí me lembro que eu também procurava Wally em cada ônibus que eu entrava, em cada pessoa que sentava do meu lado em cada novo amigo aceito nas (inúteis) redes sociais.Talvez eu seja o Wally da garota, uma versão menos tímida e charmosa e sem os óculos, mas esse pensamento idiota basta para eu desviar o olhar para dentro do apartamento.
  Não há felicidade possível sozinho,  nem há felicidade possível cercado de gente; creio que as pessoas que chegaram mais perto da felicidade foram aqueles que aceitaram os momentos alegres como dádivas fulgazes á se aproveitar ao máximo e aceitaram as tragédias como fato imutável da jornada, mais do que felicidade eu acredito  em serenidade....e me sento.
  Aprendi a assitir novela, vazio e momento em alguns capítulos de total alienação, menos sofrimento,menos dúvidas. mergulhado no sofá acompanhando a improvável surpresa que poderia surgir na telinha....me levanto, olho de novo o exterior, tudo parece bem mais interessante do que aqui dentro. Me sinto apático comigo mesmo, me sinto curioso com o próximo, vejo os mendigos dando risada, trôpegos bailarinos de rua, a linguagem rebuscada me oprime, o limite da linguagem não me basta, paro na esquina do prédio com caderno e caneta em mãos,vou pensar em qual antigo amor me inspiraria para um texto de dilemas amorosos: nenhum!  Amor passado não é amor, não é texto, não é poesia, não é nada, a palavra não resgasta sensação inexistente ou eu criei a redoma de vidro pra me convencer que os anos passados foram superados?  Não insisto no pensamento, afinal acreditar estar forte já é um passo e não haveria muito o que mexer, eu sou raso, não há muito a descobrir além disso, coloco um sorriso falso no rosto e jogo charme para a  puta que passa...não cola (preciso treinar a falsidade do olhar).
  As linhas se vão, vou escrevendo sobre amigos, sobre pessoas das quais não gosto (e como tem sido difícil falar das pessoas que gosto).
Abri mão de vencer nessa cidade, pessoas mais inteligentes, mais bonitas, escrevendo melhor por todos os lados, porque eu seria o vencedor dessa corrida de loucos? Faço todo dia minhas revoluções, minha masturbação mental , não falo a verdade a ninguém, dou risada, agrado, sou engraçado e boa praça como manda o marketing social, me condeno a baixeza de ser médio.
  Volto a subir os elevadores, tento em vão ser uma boa pessoa, consigo com sucesso parecer. Estou engulindo desaforos, me engasgando com sinceridades.
  Agora terminando de escrever penso na minhas roupas comuns,meu jeito de falar de paulista mediano, continuo mais um no formigueiro recorrendo a frases baratas de auto ajuda para fingir que estou tentando mudar ou me desfaço do antigo para mergulhar no novo? Ah eu olho aqui de cima e parece bom, é minha zona de conforto; mas então desço de novo, vou me camuflar na escuridão, depois calçadas e luzes de bar
me fundir com a  cidade e no amanhecer vou para o combate; não ser só mais um menino bom , vou buscar a diferença, na raça, na pirraça, no movimento já que me falta o talento.
  Deixo entregue o texto medíocre, resultado da palidez dos dias, peço desculpas aos que leêm e fecho o caderno.





PENSAMENTO CONSEQUENTE:
“Tenho a liberdade do mundo para sair, e me sinto preso.”
— Carpinejar