Quando me lembro de você eu penso naquelas lágrimas molhando minha camiseta,
tendo tanto pra falar eu me calava, entrava no seu mundo, respeitava os recantos escuros do seu coração.
Sempre chovia quando de manhã você ligava, e sabia que onde fosse eu iria te buscar mas hoje não tem
mais volta eu não vou te procurar.
Eu nada procuro fazer pra te lembrar ou te esquecer, deixo o pensamento por si escolher os momentos de sobriedade ou de nostalgia e espero um dia reencontrar o melhor que você foi e te mostrar o melhor que pude me tornar; o amor te digo que não irá voltar, mas junto com as mágoas tenho coisas boas de nós dois a recordar.
Me convidam para passeatas e querem que eu mude o mundo, eu nego qualquer caminhada que seja vã para meus irmãos,mas também não abro mão de certos egoísmos, dos prazeres e das mulheres.
Quando lembro de você penso e o quanto você contribuiu para a cura da minha saudade e da minha saúde, nos gostamos tanto em tempos de desgosto e desamor e quando você me rejeitou eu esperneei mas hoje tenho bem mais coragem para um: "até amor".
Seu coração atrapalhado me bagunçava por inteiro,terminávamos em dezembro,eu curtia a desolação de janeiro e te remendava em mim no carnaval, tudo podia ir mal que eu não largava o osso, mesmo no fundo do poço insistia em te puxar, te lamber os pés e te exaltar e me sentia homem caminhando arrastado pelas suas correntes e você se sentia mais mulher tendo um "homem" que faria o que você quiser.
Lenine diz: "qualquer amor já é um pouquinho de saúde", mas que vida dura se ela me deixava louco e era meu descanso da loucura, eu não percebia que você tinha problemas com amor demais, e quanto mais você reclamava mas meu afeto te deixava sem ar e mais e mais minha paixão te oprimia e te culpava...
e eu andava na chuva, na rua vazia, achando lindo te dar mais amor do que seu coração de criança poderia comportar.
Hoje sou mais mesquinho, mas continuo boa pessoa, não é contradição mas vivo a vida numa boa, sem sustos e desfavores a quem me dá mais até do que mereço, não pago mais o preço do apreço
e a estrada que findará um dia está longe da vista, coisas sublimes virão, mais testes para emoção,Deus soprando da eternidade ventos de novidade para nossas vidas desalinhadas, para continuarmos nos desencontrando, mas em um desencontro feliz, sem forçar essa barra de estar preso pra sempre um à mão do outro simplesmente por já termos estado presos um à mão do outro entende branquinha?
Não éramos tão especiais assim, as lembranças enganam a gente tornando mais radioso o passado do que realmente foi e assim vamos remoendo o que não foi e nunca será.
Você nunca foi frágil e parti mais sereno assim, sabendo que você foi mais forte em direção ao mundo mas ainda lembro das lágrimas na minha camiseta, do abraço de proteção e da sensação de super-força, super-bacana, super-homem que se sentia, te explicava que do chão a gente não passa e que queda por queda vamos rolar na cambalhota.
Fiz por entender meu amor por você, foi grande, foi bom e passou, a chuva caiu, as flores se afogaram
o sol apareceu, sementes se afloraram e minha poesia ficou mais bonita, mais cheia de histórias pra contar
aprendi a descrever bem melhor seu olhar assim de longe, só na cabeça e no imaginário, esqueci que eles já foram olhar de morte e pensei: "que sorte ter te encontrado naquele tempo bom de menino".
Fui me acostumando a sua beleza e a extraordinária confusão com a natureza não me cegava mais, só a sensação de orgulho bastava, termino o sentimentalismo aflorado, nunca barato e jamais tolo e bobo parafraseando Chico e outros cantores: "penei com você pequena mas ao menos o blues valeu a pena"
De tanto treinar o "até amor" um dia ele sai.
(Sob inspiração de belas canções de Filipe Catto, Karina Buhr e Chico Buarque e Lenine)
PENSAMENTO CONSEQUENTE: Quando você me deixou meu bem, me disse pra ser feliz e passar bem, quis morrer de ciúme e quase enlouqueci mas como era de costume eu obedeci.Quando quiser me rever me encontrará refeito (pode crer), quero ver o que você faz ao sentir ao ver que sem você eu passo bem demais.
(FILIPE CATTO)