As vezes eu me pego nessas tardes preguiçosas, em que raramente tenho algo mais útil a fazer, olhando aquela foto, que inclusive eu devia ter rasgado.
Mas mais que esse retrato, o que me comove é aquele anel prateado guardado na caixinha. Há tempos não olho para ele, mas vendo a caixinha ali naquela cesta de Páscoa presente de um domingo alegre, me confronto com o pior de mim: Incapacidade total de me desapegar do passado.
Imagino naquela aliança todas as coisas prometidas, aquelas promessas que usamos para prender quem já acena para outro horizonte. Símbolo de tudo que um dia foi expectativa e felicidade agora me pego apático, (não triste), para aquela jóia que hoje é ausente de significado, de sentido, está ali apenas para me lembrar que algo aqui ainda não morreu, está ali para tornar as tardes mais irremediáveis e vazias.
Há algum tempo eu penso em me desfazer destas coisas que me aprisionam num tempo que se foi, mas não sei se me faria bem, tenho medo de com isso perder ainda mais pedaços do que os que deixaram para trás quando perdi a outra metade da aliança...esse nome aliança, não faço imagem na cabeça de algo chamado aliança sozinho, ali num canto da casa esquecido, na espera vã de quem partiu sem olhar para trás e sem arrependimento.
O que mata é saber o quanto o outro é corajoso, deixar tudo de lado assim, sem choro, nem vela, mas é assim mesmo, o fim do amor é escuro e não mostra luz alguma, o jeito mesmo é que um dia acordamos e embora os restos da depressão estejam impregnados na casa a gente v ê que consegue acenar sozinhos, para algum lugar, nem que seja para nossos amigos vazios, nem que seja para nós mesmos.
Não resisto, abro aquela caixinha, espantado percebo meu receio em amassá-la, ainda há carinho, sei que esse tipo de gesto faz para sofrer, eu gosto, talvez seja meu vício, querer ser assim, achar bonito essa solidão, esses dramas, que me perdoe as feministas, não é coisa que homem deve fazer, há de se ter certa segurança, nada lágrimas, que mulher gosta disso?
Mas não dá pra matar essa sentimentalidade tola, fingir me faria rir menos ainda, pois deixar de ser quem sou eu já tentei e não foi minha salvação.
Deixarei aqui tudo que faz dessas tardes, tardes tristes mas um dia há de vir meu sorriso com alguém que virá sem pretensões me trazer a cura e nenhum objeto possuirei mais em vão, pois já possuo em vão tantas coisas nessa vida, e percebi agora que o tempo não vai levar pra longe nada do meu peito, nem uma tempestade vai varrer do mapa os objetos que você esqueceu, e agora mais que nunca aceito essa condição, de romântico inveterado, de pervertido sem solução, e não deixo mais de amar a vida, e quem me quiser assim que venha.
Abro a porta, o céu está alaranjado, e o clichê como sempre...meu parceiro, saio, fecho a porta
Sem trancar...
PENSAMENTO CONSEQUENTE: E para cultivar o desapego é preciso o primeiro passo, a primeira reza e o último beijo...É preciso fechar os olhos e parar de sentir com o coração.
CAMILA CUSTÓDIO